Salmo
23
Comentário
Expositivo
Tema:
Salmo 23
Texto:
Salmo 23
Introdução
Estudaremos hoje um dos Salmos mais conhecidos entre os
cristãos, tentaremos entender o que o escritor estava sentindo quando o
escreveu e veremos o quão rico e maravilhoso este é. Descobriremos que é
bíblico nos apropriarmos de Deus, como sendo aquele que cuida de nós.
A autoria da maioria dos salmos é atribuída ao rei Davi, o qual teria escrito pelo menos
73 poemas. Asafe é considerado o autor de 12 salmos. Os filhos de Corá escreveram em torno de 9 salmos e o rei Salomão ao menos 2.
Hemã, com os filhos de Corá, bem como Etã e Moisés, escreveram no mínimo 1
cada, e também temos os Salmos que não identificam seus autores humanos.
Vamos lá,
“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.” - Salmo 23:1
É
interessante a forma como David começou este salmo, ele não apenas diz:
O Senhor é meu pastor,
não, os escritos originais nos mostram o uso do nome pessoal de Deus, o
tetragrama, ou YHWH ( Javé ) ( Êxodo 3:14 “ Eu sou
o que Sou ou YHWY ).
É importante citar que na época em que este salmo foi escrito, a
comunidade tinha muito mais valor que o sujeito, e David, faz algo digno de ser
apreciado, apropriando-se do Senhor como sendo seu.
“
O Senhor é o meu pastor ”
O
salmista declara que este Senhor é seu próprio pastor, e a imagem pastoreio nos leva a lembrar da imagem do rei
David, no seu primeiro ofício:
“
Disse mais Samuel a Jessé:
Acabaram-se os moços? E disse: Ainda falta o menor, que está apascentando as
ovelhas ” - 1 Samuel 16:11a
É
interessante lembrarmos que as ovelhas são animais extremamente inofensivos, as ovelhas comumente se perdem devido a sua própria
despreocupação. Esquecendo tanto o rebanho como o pastor, elas perambulam sem
destino, tendo na mente nada mais do que a próxima moita de capim. É também interessante
apontarmos a imagem da submissão destes animais aos seus donos.
O profeta Isaías faz uma comparação do Messias ( O Senhor Jesus com uma
ovelha )
“ Ele foi oprimido e afligido, mas não
abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha
muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.” - Isaias 53:7
Além
disto David está adequando uma linguagem para si
próprio, a qual se aplicava à nação como um todo (ver SI 79.13; 95.7; 100.3; Is 40.11; Ez 34).
“
Meu pastor ”
“
Assim nós, teu povo e
ovelhas de teu pasto, te louvaremos eternamente; de geração em geração
cantaremos os teus louvores. ”
- Salmo 79:13
“
Porque ele é o nosso Deus, e
nós povo do seu pasto e ovelhas da sua mão. Se hoje ouvirdes a sua voz ” - Salmo
95:7
“
Sabei que o Senhor é Deus;
foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu
pasto. ” – Salmo 100:3
(
Veja também os textos Isaias e Ezequiel )
A
imagem que nós temos é a seguinte, somos as ovelhas de Deus, e Deus é o nosso
pastor, eu sou fraco, frágil e débil e preciso dEle, preciso do seu cuidado, da
sua atenção e das suas provisões. Não olhemos apenas para as coisas matérias,
mas vejamos a mão poderosa de Deus nos guardando todos os dias, a manifestação
da sua misericórdia e graça, no oxigênio que respiramos, no copo de água que
bebemos e no pão que comemos.
O versículo termina da seguinte forma:
“ Nada me
faltará ”
Apesar das traduções tradicionais, o texto
original tem um verbo na primeira pessoa do singular, sendo a tradução correta:
“ Não terei
falta de nada ”
“ Não preciso
de nada ” Bíblia Judaica
Existe uma diferença muito grande em “ Nada me faltará ” para “ Não terei falta de nada ”, na primeira Deus é assemelhado a uma
grande dispensa, onde eu sempre terei acesso privilegiado, e sempre está pronto
ao meu acionamento.
O texto é melhor entendido, quando
apontado para a forma como vamos nos portar diante da provisão de Deus, por que
afinal e contas, existem pessoas que não tem falta de nada e nunca estão
satisfeitas com isso, e não obstante, existem pessoas que tem falta de muita
coisa e se sentem satisfeitas com o pouco que tem.
Então a ideia do salmista, é mostrar que
do jeito que o pastor está cuidando dedicadamente de suas ovelhas, Deus nos
trata de igual modo, pois é Ele – Deus, é quem garante a nossa provisão.
“ Deus esteve contigo, coisa nenhuma te faltou. - Deuteronômio 2:7”
Versículo 2 “ Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas
tranquilas. ”
A Palestina é uma região tropical, onde
praticamente predominam duas estações, o inverno, a estação das chuvas que vai
de novembro a abril, e o verão, período da seca, que vai de maio a outubro.
Nos primeiros dias de abril, a vegetação
recente, oferece um espetáculo maravilhoso, um esplendor verde, um tipo de
mosaico multicolorido, excelente para a pastagem dos rebanhos.
Porém, a medida que o verão e o calor do
sol se tornam mais intensos, o verdor e as flores secam, tornando muito mais
difícil de se encontrar um local com alimento suficiente para as ovelhas. Isto
obriga os pastores seguirem em uma cansativa peregrinação em busca de pastos
verdes.
Para nós que moramos em um país tropical é
muito fácil imaginarmos um cenário todo esverdeado, logo lembramos da nossa
floresta Amazônica, entretanto no cenário do Oriente médio não é fácil, sendo
está uma região árida ou semiárida.
Este versículo é melhor entendido, quando
olhamos para Deus, como sendo aquele que provém os nossos meios de sustento,
nos levando numa peregrinação, sob cobertura de sua proteção, até encontrarmos
o nosso alimento e nos abastecermos. A imagem de Deus a semelhança de um pastor
protetor, nos faz olhar para este como sendo aquele que nos ama a tal ponto de
cuidar de nós com tanto zelo.
E é interessante que neste lugar de
provisão, nós descansamos, repousamos e está
palavra tem um sentido muito forte na escrita original, que aponta além de um descanso físico, é melhor entendido
como descanso espiritual, mostrando o que de fato precisamos.
A figura das águas tranquilas enfatizam o
lugar de descanso, mostrando uma evocação de paz e tranquilidade para aqueles
sob o cuidado deste tão gentil pastor.
Isto é tão vívido que o próprio Senhor
Jesus nos chamou a este descanso:
“ e
encontrareis descanso para as vossas almas. Mateus 11:29b ”
Versículo 3 “ Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça,
por amor do seu nome. ”
A palavra nephesh
as vezes significa alma, mas na maior parte das vezes não, principalmente no
caso de ovelhas, porque o forte de ovelha não é ter alma, então aqui, está
palavra significa fôlego de vida, vigor.
Então na ideia de ação sustentadora e
descanso ou paz vinda Deus, Ele restaura as nossas emoções, ele nos faz voltar
outra vez, nos dá ânimo, nos renova. Diante da atual sociedade onde vivemos, e
quando digo sociedade não digo apenas a brasileiras mas a mundial, onde o
capitalismo escraviza o homem, onde as pessoas são sugadas, e começam os
quadros depressivos, opressivos, nós que estamos debaixo do cuidado deste
pastor, temos uma refrigeração / restauração de nosso vigor, de nosso ânimo.
O final do versículo 3 está interligado
com o versículo 4
“ guia-me
pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Salmos 23:3b-4 ”
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Salmos 23:3b-4 ”
Caminhos da justiça, ovelhas
tem isso?
Caminhos da justiça ou veredas da justiça,
significam caminhos corretos, direção correta e isso é muito forte quando nos
lembramos que a ovelha, assim como já dito não é um animal inteligente, é um
animal sonso, bobo, se assim podemos dizer a ovelha é a nossa cara, da mesma
forma que este animal pode tomar um caminho errado e cai em um buraco ou mesmo
se perder, nós também não estamos no controle da direção, existem situações em
que achamos que as rédeas do controle estão em nossas mãos, mas o mundo cai e
vemos que não estamos ao menos segurando-as, e este versículo nos revela que
Deus o pastor perfeito é quem nos guia pelos caminhos corretos, e isto não
porque somos bons ou piedosos e é nesta parte que entra o final do versículo 2,
e vemos que o motiva a este gentil pastor agir é o amor pelo seu Nome ( O nome
de Deus ) Ele (Deus ) nos guia pelo caminho correto, Ele nos dirigi pelos
caminhos corretos.
E
temos esta ação de Deus, como já dito, por amor do seu Nome, ou seja, Ele age
com bondade e amor, garantido pelo seu nome, não por nós, não, porque se Ele
fosse agir por isto, estávamos deixados para morrer, mas não ele garante a sua
misericórdia por amor ao seu Nome, Ele tem prazer em abençoar os seus
aliançados.
“ Ainda que eu
andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás
comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam ” ver. 4
Antes precisamos entender os relevos desta
região, da terra de Israel, com o seus vales e montanhas, e aqui nós voltamos a
imagem das ovelhas, peregrinando por estas regiões, subindo e descendo,
passando por fendas e etc.
Quando estudamos o Antigo Oriente
logo entendemos que o mesmo está dividido em três sub-regiões geográficas. A
maior parte “da área do Antigo Oriente Próximo era desértica e pouco propícia à
manutenção da vida humana. As poucas terras férteis estavam enquadradas entre
montanhas quase intransponíveis ao norte e vastos desertos ao Sul.
O versículo começa falando, “ AINDA QUE EU ANDASSE PELO VALE ”, entretanto a
ideia que este versículo passa é de incerteza de transitar por este lugar, mas,
os escritos originais nos trazem outra verdade, eles falam de algo que de fato
vai acontecer, algo do tipo “ Quando eu andar ”
ou seja isso irá acontecer.
O versículo procede dizendo, “ pelo vale de sombra e de morte ”, e aqui podemos
entende-lo de maneira literal, porque quanto mais você desce nestas montanhas,
mais escuro fica, menos incidência de luz chega e de fato fica escuro,
tenebroso, e no final destes canyons, destas montanhas, a possibilidade de
existirem animais violentos ou peçonhentos era muito grande, e por isso era um
lugar de morte.
Existem alguns teólogos que
utilizam o versículo 4 para ilustrarem as peregrinações do salmista ou mesmo de
algum soldado que andando por estas fendas, estava na iminência de um ataque
inimigo.
E mesmo diante de uma situação que irá
acontecer, nós vemos o salmista voltando a Deus toda a confiança, o versículo
nos diz, “ não temerei mal algum ” quem? eu a ovelha indefesa e débil, porque não temerei? E o versículo diz, “ Porque Tu ( Deus ) estás comigo ”, a assiduidade
de Deus em nossas vidas, nos traz um conforto e segurança indescritíveis.
E o versículo termina da seguinte maneira,
“ a tua vara e o cajado me consolam ”, e temos
que aprender que o cajado tinha
aproximadamente 3 metros de comprimento e tinha a ponta curvada, como um
gancho, que servia para impedir a queda das ovelhas à beira de barrancos e
penhascos. Quando uma ovelha caia em um buraco, o cajado era utilizado para
erguê-la, pois a ponta curva, em forma de gancho, se encaixava no peito da
ovelha que era elevada de volta ao caminho, já a vara – bordão, bastão – era uma espécie de pau grosso,
resistente, compacto e pesado, de aproximadamente 60 centímetros a 1 metro de
comprimento. Servia de apoio ou arma.
O pastor utilizava a vara para proteger as
ovelhas dos ataques dos lobos e outras feras, pois as ovelhas não têm meios
próprios de defesa e até mesmo para dar umas pancadas direcionais para as mais
dispersas.
Façamos uma recapitulação do
já aprendemos!
O salmista David, está escreve-nos da
seguinte maneira, Olha Deus é de fato aquele que me sustenta, eu sou deste Deus
e este Deus é meu, eu não sinto falta de absolutamente nada, e sei está grato a
Deus pela forma como Ele manifesta as suas provisões para mim, as crises que
permeiam a sociedade não podem me abalar porque este meu Deus, refrigera
continuamente o meu vigor e forças, eu fico tranquilo e sei que este Deus me
guia pelos caminhos corretos e neste caminho eu tenho a proteção Dele.
Nesta empolgação toda, o salmista muda o
quadro, a imagem da ovelha sai de cena, e agora nós colocamos em cena a imagem
de uma magnífica recepção e um gentil anfitrião.
O versículo 5 diz “ Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus
inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.”
O salmista retrata que Deus o abençoa de
modo muito especial, Deus não só o abençoa, mas muito abençoa, e isso a vista
dos seus inimigos. Não é qualquer inimigo, mas sim os que querem acabar com a
sua vida, não é uma vingança, pois não foi ele quem maquinou, mas Deus que lhe
abençoou, e os que lhe odeiam ficam lhe olhando, ou seja, tanta gente em sua
vida quis lhe destruir e ficou para trás.
“ Unges a
minha cabeça com óleo ou azeite ”
É importante deixarmos bem claro que
quando escrita, a bíblia foi mergulhada em um contexto cultural, e naquela
época você honrava uma pessoa jogando azeite em sua cabeça, temos um exemplo
claro disto no livro de Lucas, capítulo 7:46, Jesus censura o fariseu da
seguinte maneira “ Não me ungiste a cabeça com
óleo... ” ou seja, você não deu a
mim, a honra merecida, e o salmista retrata neste versículo que Deus o trata
com honra.
A ideia do cálice transbordante
é melhor retratada como sendo fartura, vinda da parte de Deus.
Versículo 6 diz “ Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão
todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias. ”
E nesta última sessão, entenderemos o por
que o salmista, afirma isto!
Primeiro
O versículo 6, foi escrito por um homem
que acabou de se comparar com um animal, débil, fraco, sonso, indefeso,
vulnerável e etc, e este homem, está completamente confiante que está seguro
por este Deus, então vemos alguém que de fato tem fé em Deus, acredita na
provisão divina e submete-se a sua
vontade.
O salmista tem certeza de duas coisas, que
em meio a tantas bênçãos vindas de Deus, o pastor e anfitrião perfeito lhe dá:
1- A bondade Dele, e bondade é aquilo que
Deus dá para todos, por exemplo a chuva, cai para os maus e bons, o sol o ar e
etc...
Jesus
no sermão da montanha disse:
“
Porque faz que o seu sol se
levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. ” Mateus 5:45
2- A Misericórdia, que quer dizer amor real,
amor fiel, amor inabalável, é também é traduzido como fidelidade, e é dado
apenas aos seus aliançados.
E
estas acompanharão ou seguirão ( mas nos escritos originais a palavra usada é
melhor entendida como sendo perseguição ), ou seja, uma perseguição de Deus aos
seus aliançados, uma santa perseguição, daqueles que o tem como um gentil
pastor e indescritível anfitrião.
E o
salmista conclui tudo isto dizendo, eu não posso fazer nada além de habitar em sua casa, entretanto está palavra “habitar” nos escritos originais tem um significado
de moradia permanente e não apenas ficar e sair,
mas moradia permanente ou mesmo regresso a um lugar que sai um dia.
Conclusão
Este
comentário expositivo conclui-se nos dizendo o seguinte. Diante de Deus nós,
pecadores, somos como o ser mais fraco e débil existente, somos cegos andando
em campo minado e se este Deus não fizer o papel de um pastor que gasta tempo
em proteger e guiar este débil animal, nós morremos, ou seja, não busque
glória, pois está será vã, mas quando
você confia em Deus, Ele, lhe trata com honra, e lhe recebe a sua presença,
para que dela você nunca mais sai.
Amém!
Seu
humilde teólogo,
Leivison
Barros S.
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