JUDAS
Comentário Expositivo
Tema: “ MOTIVO E OBJETIVO DA CARTA
”
Texto: “ Amados,
procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive
por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi
dada aos santos.
Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo.
Judas 1:3-4 ”
Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo.
Judas 1:3-4 ”
Introdução
Neste novos dois versículos
veremos o motivo pelo Judas escreveu esta carta, também aprenderemos que
existem verdades que merecem ser priorizadas nas sagradas escrituras, tudo que
ponha em risco a salvação, merece ser estudado e eliminado do meio do povo do
Senhor.
Versículo 3
Judas declara imediatamente aos destinatários
da carta por que, afinal, lhes escreve, com que seriedade o faz e qual é o
objetivo do escrito: Amados, enquanto dedico todo o empenho em vos escrever a respeito
de nossa salvação comum, obtive a necessidade de vos escrever.
Na interpelação amados,
comprova-se o que acabamos de afirmar acerca do caráter “indivisível” do amor. São amados primeiramente porque Deus os
incluiu em seu amor (v. 1).
Mas por isso vale para eles
também o que Paulo disse aos tessalonicenses em 1Ts 2.8: “tornaram-se amados” também para os mensageiros.
Podem ter certeza de que Judas lhes escreve
com sincero amor, não obstante toda a gravidade de suas palavras. No entanto,
esse amor não é a única razão pela qual Judas escreve a carta. Ele não escreve
por critério pessoal ou por qualquer disposição de humor. Sua carta tem uma
fundamentação muito mais séria: obtive a necessidade de (literalmente, vi-me forçado a) vos escrever.
Essa palavra necessidade também
consta em 1Co 9.16 “ Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me
é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!
”, com vistas a todo trabalho de proclamação do apóstolo Paulo: uma necessidade
interior pesa sobre ele; por isso precisa evangelizar.
Situação análoga é a de Judas:
ele precisa escrever a carta. Esse “precisa”
pesa, no Antigo e Novo Testamentos, sobre todos os homens e mulheres com quem
nos deparamos no serviço de Deus. Pesa com gravidade máxima também sobre Jesus,
e não significa refutação, mas exatamente confirmação e consumação de sua
verdadeira filiação divina. Judas precisa escrever.
Como, então, deve ser entendida a declaração anterior? Será que, com “um
vivo desejo”, pretendia de fato escrever à igreja algo bem diferente, uma carta
doutrinária, um tratado sobre nossa salvação comum? Será que foi
interrompido nisso porque foi impulsionado por uma necessidade totalmente
diferente? Ou
será que a salvação comum se refere ao conteúdo da presente carta, com a carta
apenas passando a ter outro objetivo em vista de uma necessidade recebida?
A forma linguística da frase não
nos permite chegar a uma conclusão. Judas pode fundamentar a aplicação de todo
o empenho no escrito justamente pelo fato de que se tornou cada vez mais nítida
para ele a necessidade que o impelia a escrever. Afinal, cumpre considerar que
na primeira parte da frase consta poiúmenos e não poiesámenos = ou seja:
“enquanto dedico”, e não “dedicava”, todo o empenho. Trata-se de nossa salvação
comum. A salvação = a redenção é o mais importante que pode existir para nós.
Está em jogo nosso futuro eterno.
Enfaticamente é dito: a nossa salvação conjunta. Logo não se trata do interesse
particular de um indivíduo ou da doutrina peculiar de um grupo ou tendência.
A salvação, a redenção dos
humanos diz respeito igualmente a todos. Nisso Judas está completamente de
acordo com todos os apóstolos, assim como com a própria igreja. Essa
concordância constitui o fundamento para a boa compreensão entre o autor da
carta e os destinatários.
Essa salvação, porém, está
ameaçada, não por algo de fora, mas algo de dentro da própria igreja. Por essa
razão a igreja precisa ser convocada, “exortada”,
acordada e fortalecida para a luta. Esse é o alvo da carta: para vos exortar a
lutar pela fé, que foi entregue aos santos de uma vez por todas. Não
é pela salvação em si que a igreja tem de lutar. A salvação foi conquistada
pelo Filho de Deus quando, ao morrer, fez soar seu grito de vitória “Está consumado”.
Contudo, trata-se da mensagem da
salvação e de sua vigência, da fé que foi entregue aos santos. Nessa formulação
evidentemente foi fortemente destacado o aspecto objetivo da fé. Somente o
conteúdo da fé em si é que pode ser entregue. Fundamentalmente, agarrar esse
conteúdo, apropriar-se dele e vivenciar a fé têm de acontecer dia a dia na vida
de cada cristão e na vida cristã.
Contudo, isso pressupõe a
existência do conteúdo e fundamento da fé. Por isso justifica-se plenamente a
valorização do conteúdo da fé e sua preservação e comunicação fiel e correta.
Na presente passagem constitui um sinal de que a carta precisa ser datada
historicamente em um período tardio, situando-se em uma época de “estruturação eclesiástica” e “tradicionalismo”. Também Paulo chegou a
falar “da fé” como um dado
consolidado que “veio” na hora
preestabelecida por Deus (Gl 3.23; Rm 3.21).
“ Mas, antes que a fé viesse,
estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de
manifestar. Gálatas 3:23 ”
“ Mas agora se manifestou sem a
lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Romanos 3:21
”
E também ele conhecia a “tradição” límpida do
conteúdo da fé, na qual não há nada para pôr nem tirar (1Co 11.23; 15.1-4)
“ Porque eu recebi do Senhor o que também vos
ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
1 Coríntios 11:23 ”
1 Coríntios 11:23 ”
“ Também
vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também
recebestes, e no qual também permaneceis.
Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão.
Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,
E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze.
1 Coríntios 15:1-5 ”
Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão.
Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,
E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze.
1 Coríntios 15:1-5 ”
Por quem
“a fé” nesse sentido é “entregue aos santos”? Inicialmente pelos
apóstolos. Em última análise, porém, é – 1Co 11.23 – o próprio Deus que nos
prepara e concede o fundamento e conteúdo da fé.
Como outrora na história de
Israel, Deus agiu agora de forma definitiva no envio messiânico de seu Filho.
Com validade de uma vez por todas, aconteceu o que ele consumou na cruz para
nós, como a carta aos Hebreus salienta repetidamente. Portanto a fé foi
entregue aos santos de uma vez por todas como testemunho dos grandes feitos de
Deus. Obviamente essa fé objetiva precisa ser aceita subjetivamente e
preservada. Somente assim obteremos a redenção e nos tornamos “santos” que
pertencem a Deus e atingem a salvação.
Esse “segurar firme a fé” passa a ser, em
determinadas situações, uma luta. Porque, segundo a experiência, essa “fé”
frequentemente é posta de lado no âmbito da igreja, e até mesmo negada e
rejeitada. Por essa razão também encontramos em Paulo as grandes “epístolas
polêmicas”, sobretudo a carta aos Gálatas e a segunda aos Coríntios.
Em meio à carta
da alegria, a carta aos Filipenses, conclama-se em Fp 3.17-19
“ Sede também meus imitadores, irmãos, e tende
cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam.
Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo,
Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.
Filipenses 3:17-19 ”
Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo,
Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.
Filipenses 3:17-19 ”
com grande
seriedade para a luta. Um apelo desses, portanto, também se tornou necessário
nas igrejas às quais Judas se dirige.
Versículo 4
Porque se
infiltraram algumas pessoas que há muito foram de antemão anotadas para esta
sentença: ímpios que pervertem a graça de nosso Deus em devassidão e renegam o
único Soberano e nosso Senhor (ou: nosso exclusivo Soberano e Senhor) Jesus
Cristo.
Como Judas está
próximo de autores como Paulo e João! Exatamente como esses apóstolos, Judas
não cita nomes de adversários. Ele usa apenas o termo indefinido, mas muito
característico tines = “alguns” ou “certas pessoas” (Lutero traduziu para
“diversos”), que também está em 1Co 4.18; 15.12; 2Co 10.2; Gl 1.7.
Eles se
infiltraram, como também Paulo afirma acerca de seus oponentes em Gl 2.4.
Evidentemente as pessoas que Judas tem em mente não apresentaram suas novas
opiniões imediatamente de forma aberta e franca perante a igreja, mas
inicialmente se deixaram acolher como irmãos autênticos, para aos poucos granjear
influência e fazer propaganda de suas concepções. Talvez venham em parte da
própria igreja, e vale para eles o que João viu em 1Jo 2.13 e Paulo referiu em
seu discurso aos anciãos de Éfeso em At 20.31. A princípio aquilo de que essas
pessoas precisam ser acusadas é expresso em uma frase fundamental, sumária.
Uma clara
“sentença” sobre eles é certa: são ímpios. Quase todos os tradutores explicam o
termo como “pessoa sem Deus”, mas
isso é questionável. Afinal, de modo algum se trata de negadores de Deus. Estão
no seio da congregação cristã e acreditam até mesmo que conduzirão o
cristianismo ao auge. Aqui tampouco se trata predominantemente de teorias e ideias,
mas de sua vida prática, de sua “devoção”.
A acusação
contra sua forma de viver é: pervertem a graça de Deus em devassidão. Não são
“sem Deus”, visto que confirmam a seu modo a mensagem da graça de Deus.
Ocorreu, porém, da parte deles uma “perversão” dessa mensagem, algo a que ela,
aliás, sempre está sujeita. Paulo formulou essa perversão e distorção
interpretativa de forma áspera em Rm 6.1: “Que
diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?”
Também os
apóstolos da liberdade em Corinto, com o lema “Todas as coisas me são lícitas” (1Co 6.12), consideravam que a
realização plena da vida acontece “somente pela graça”, “somente pela fé”, sem
“obras”, justamente no fato de que a vida corporal, em especial na esfera
sexual, estava entregue ao inteiro dispor do ser humano. De que importava a
sublimes pessoas espirituais o que fazia seu corpo transitório?
Que
satisfizesse sua pulsão! O mesmo acontece com a devassidão, que se remete à
“graça de Deus”, pensando dessa forma dar especial destaque a essa “livre
graça”.
Judas constata com flagrante dureza que todas
essas ideias representam uma perigosa perversão da graça de nosso Deus.
Certamente ele é “nosso Deus”, o Deus que se volta a nós com toda a sua
maravilhosa graça. Mas trata-se do Deus real e vivo, do qual Hb 12.29 afirma
expressamente que também “nosso Deus”
é um fogo consumidor.
Não deixa de ser
o Santo, que odeia o pecado, também em sua graça. É por isso que sua “graça”
não propicia liberdade para o pecado, mas decididamente liberdade do pecado.
Ela realiza isso ao se vincular a Jesus Cristo, que carregou e expiou nosso
pecado, e ao nos remeter, assim, igualmente a ele como nosso “Senhor”.
A graça de nosso
Deus não nos libera para uma liberdade em que não há um senhor e a consequente
presunção autocrática, mas nos deixa “livres” pela entrega ao senhorio de Jesus
Cristo. Por isso aqueles que pervertem a graça de Deus renegam simultaneamente
ao único Soberano e nosso Senhor Jesus Cristo. Não constitui diferença
significativa se vemos no “único
Soberano” a Deus, o Pai, distinguindo-o de “nosso Senhor Jesus Cristo” ou se sintetizamos
os dois títulos, designando a Jesus como “nosso
único Soberano e Senhor”.
Em 2Pe 2.1 o
termo despotes ( termo grego = mestre, senhor ) é inequivocamente relacionado a
Jesus Cristo. É algo que também terá de ser ponderado aqui. A essência é se reconhecemos
voluntariamente nossa subordinação a esse “Soberano” e “Senhor” com gratidão ou
se a negamos e nos esquivamos dele. Novamente não está tanto em questão uma
“negação” intelectual, dogmática, mas muito mais a “negação” do senhorio de
Jesus na prática da vida vivenciada.
Judas, com essa
frase, também aponta de maneira particular para o gnosticismo, ao definir Deus
e Jesus Cristo enfaticamente como nosso “único” Soberano. O gnosticismo falava
de “emanações” divinas, “eflúvios” ou também entes divinos intermediários entre
Deus e o mundo. Isso convinha à religiosidade do mundo helenista, que
apregoava, através de múltiplos cultos e santuários, muitos kyrioi, muitos
“deuses” e “senhores”, deixando-os valer lado a lado.
Por isso é
possível que também os grupos “modernos” nas igrejas se tenham voltado contra a
“estreita e unilateral reivindicação de que Deus é absoluto” da proclamação
apostólica, renegando assim o verdadeiro direito de senhorio de Jesus Cristo.
Para os novos mestres Jesus Cristo não é realmente o “Senhor” que determina sua
vivência, não configura nem preenche sua existência.
Neles, em sua
palavra, obra e modo de agir não se consegue “ler exclusivamente Jesus e nada
mais”. Como, porém, esses destruidores
da igreja foram há tempo de antemão anotados para essa sentença? Vários
comentaristas que defendem que 2Pe foi escrita antes da carta de Judas opinam
que Judas esteja recorrendo a 2Pe 2.1 e considere cumprida agora a profecia
ameaçadora dessa passagem. Outros pensam que ele se refere a exemplos típicos
do pecado e de sua condenação na história da antiga aliança, como em seguida
passará a citar nos v. 5-11.
Aqui há muito
tempo teria sido anotada de antemão na Bíblia a sentença dos atuais falsos
mestres. Em função disso seria chamada essa sentença. A rigor, porém, Judas não
diz que sentença e juízo foram anotados para os hereges, mas, pelo contrário,
que os próprios hereges há tempo já estariam “anotados” para a sentença. Tanto
no AT como no NT a antevisão divina é ilustrada por meio das anotações em
livro. Judas utiliza aqui essa metáfora familiar para fortalecer a igreja na
luta contra os hereges. Não se contrapõe sozinha e abandonada a essas pessoas.
Deus conhece esse pessoal e já os anotou há tempo em seu “livro”, precisamente
para essa sentença.
Conclusão
Estejamos todos cientes que as verdades bíblicas são todas preciosas, entretanto neste estudo aprendemos que podemos priorizar algumas verdades, ou seja, quando a salvação do grupo está em risco por causa de heresias, não se cale, não engesse, busque persistentemente mostrar que a palavra não nos revela desta maneira. Ore por estes que pervertem a verdade, clame a Deus para que estes se arrependam e voltem-se ao soberano Senhor.
FONTE
Werner de Boor
Seu humilde teólogo
Leivison Barros S.
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