Jesus Jesus é o Senhor

JUDAS - MOTIVO E OBJETIVO DA CARTA

12:49Leivison Barros




JUDAS
Comentário Expositivo

Tema: “ MOTIVO E OBJETIVO DA CARTA ”

Texto: “ Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.
Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo.
Judas 1:3-4

Introdução
Neste novos dois versículos veremos o motivo pelo Judas escreveu esta carta, também aprenderemos que existem verdades que merecem ser priorizadas nas sagradas escrituras, tudo que ponha em risco a salvação, merece ser estudado e eliminado do meio do povo do Senhor.

Versículo 3    

Judas declara imediatamente aos destinatários da carta por que, afinal, lhes escreve, com que seriedade o faz e qual é o objetivo do escrito: Amados, enquanto dedico todo o empenho em vos escrever a respeito de nossa salvação comum, obtive a necessidade de vos escrever.


Na interpelação amados, comprova-se o que acabamos de afirmar acerca do caráter “indivisível” do amor. São amados primeiramente porque Deus os incluiu em seu amor (v. 1).
Mas por isso vale para eles também o que Paulo disse aos tessalonicenses em 1Ts 2.8: “tornaram-se amados” também para os mensageiros.

Podem ter certeza de que Judas lhes escreve com sincero amor, não obstante toda a gravidade de suas palavras. No entanto, esse amor não é a única razão pela qual Judas escreve a carta. Ele não escreve por critério pessoal ou por qualquer disposição de humor. Sua carta tem uma fundamentação muito mais séria: obtive a necessidade de (literalmente, vi-me forçado a) vos escrever.

Essa palavra necessidade também consta em 1Co 9.16 “  Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! ”, com vistas a todo trabalho de proclamação do apóstolo Paulo: uma necessidade interior pesa sobre ele; por isso precisa evangelizar.

Situação análoga é a de Judas: ele precisa escrever a carta. Esse “precisa” pesa, no Antigo e Novo Testamentos, sobre todos os homens e mulheres com quem nos deparamos no serviço de Deus. Pesa com gravidade máxima também sobre Jesus, e não significa refutação, mas exatamente confirmação e consumação de sua verdadeira filiação divina. Judas precisa escrever.  

Como, então, deve ser entendida a declaração anterior? Será que, com “um vivo desejo”, pretendia de fato escrever à igreja algo bem diferente, uma carta doutrinária, um tratado sobre nossa salvação comum? Será que foi interrompido nisso porque foi impulsionado por uma necessidade totalmente diferente? Ou será que a salvação comum se refere ao conteúdo da presente carta, com a carta apenas passando a ter outro objetivo em vista de uma necessidade recebida?

A forma linguística da frase não nos permite chegar a uma conclusão. Judas pode fundamentar a aplicação de todo o empenho no escrito justamente pelo fato de que se tornou cada vez mais nítida para ele a necessidade que o impelia a escrever. Afinal, cumpre considerar que na primeira parte da frase consta poiúmenos e não poiesámenos = ou seja: “enquanto dedico”, e não “dedicava”, todo o empenho. Trata-se de nossa salvação comum. A salvação = a redenção é o mais importante que pode existir para nós.
Está em jogo nosso futuro eterno. Enfaticamente é dito: a nossa salvação conjunta. Logo não se trata do interesse particular de um indivíduo ou da doutrina peculiar de um grupo ou tendência.

A salvação, a redenção dos humanos diz respeito igualmente a todos. Nisso Judas está completamente de acordo com todos os apóstolos, assim como com a própria igreja. Essa concordância constitui o fundamento para a boa compreensão entre o autor da carta e os destinatários.

Essa salvação, porém, está ameaçada, não por algo de fora, mas algo de dentro da própria igreja. Por essa razão a igreja precisa ser convocada, “exortada”, acordada e fortalecida para a luta. Esse é o alvo da carta: para vos exortar a lutar pela fé, que foi entregue aos santos de uma vez por todas. Não é pela salvação em si que a igreja tem de lutar. A salvação foi conquistada pelo Filho de Deus quando, ao morrer, fez soar seu grito de vitória “Está consumado”.

Contudo, trata-se da mensagem da salvação e de sua vigência, da fé que foi entregue aos santos. Nessa formulação evidentemente foi fortemente destacado o aspecto objetivo da fé. Somente o conteúdo da fé em si é que pode ser entregue. Fundamentalmente, agarrar esse conteúdo, apropriar-se dele e vivenciar a fé têm de acontecer dia a dia na vida de cada cristão e na vida cristã.

Contudo, isso pressupõe a existência do conteúdo e fundamento da fé. Por isso justifica-se plenamente a valorização do conteúdo da fé e sua preservação e comunicação fiel e correta. Na presente passagem constitui um sinal de que a carta precisa ser datada historicamente em um período tardio, situando-se em uma época de “estruturação eclesiástica” e “tradicionalismo”. Também Paulo chegou a falar “da fé” como um dado consolidado que “veio” na hora preestabelecida por Deus (Gl 3.23; Rm 3.21).

“  Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. Gálatas 3:23

“  Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Romanos 3:21
  
E também ele conhecia a “tradição” límpida do conteúdo da fé, na qual não há nada para pôr nem tirar (1Co 11.23; 15.1-4)
  
Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
1 Coríntios 11:23

Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis.
Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão.
Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,
E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze.
1 Coríntios 15:1-5

Por quem “a fé” nesse sentido é “entregue aos santos”? Inicialmente pelos apóstolos. Em última análise, porém, é – 1Co 11.23 – o próprio Deus que nos prepara e concede o fundamento e conteúdo da fé.

Como outrora na história de Israel, Deus agiu agora de forma definitiva no envio messiânico de seu Filho. Com validade de uma vez por todas, aconteceu o que ele consumou na cruz para nós, como a carta aos Hebreus salienta repetidamente. Portanto a fé foi entregue aos santos de uma vez por todas como testemunho dos grandes feitos de Deus. Obviamente essa fé objetiva precisa ser aceita subjetivamente e preservada. Somente assim obteremos a redenção e nos tornamos “santos” que pertencem a Deus e atingem a salvação.

 Esse “segurar firme a fé” passa a ser, em determinadas situações, uma luta. Porque, segundo a experiência, essa “fé” frequentemente é posta de lado no âmbito da igreja, e até mesmo negada e rejeitada. Por essa razão também encontramos em Paulo as grandes “epístolas polêmicas”, sobretudo a carta aos Gálatas e a segunda aos Coríntios.
Em meio à carta da alegria, a carta aos Filipenses, conclama-se em Fp 3.17-19

 Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam.
Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo,
Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.
Filipenses 3:17-19

com grande seriedade para a luta. Um apelo desses, portanto, também se tornou necessário nas igrejas às quais Judas se dirige.     

Versículo 4

Porque se infiltraram algumas pessoas que há muito foram de antemão anotadas para esta sentença: ímpios que pervertem a graça de nosso Deus em devassidão e renegam o único Soberano e nosso Senhor (ou: nosso exclusivo Soberano e Senhor) Jesus Cristo.

Como Judas está próximo de autores como Paulo e João! Exatamente como esses apóstolos, Judas não cita nomes de adversários. Ele usa apenas o termo indefinido, mas muito característico tines = “alguns” ou “certas pessoas” (Lutero traduziu para “diversos”), que também está em 1Co 4.18; 15.12; 2Co 10.2; Gl 1.7.

Eles se infiltraram, como também Paulo afirma acerca de seus oponentes em Gl 2.4. Evidentemente as pessoas que Judas tem em mente não apresentaram suas novas opiniões imediatamente de forma aberta e franca perante a igreja, mas inicialmente se deixaram acolher como irmãos autênticos, para aos poucos granjear influência e fazer propaganda de suas concepções. Talvez venham em parte da própria igreja, e vale para eles o que João viu em 1Jo 2.13 e Paulo referiu em seu discurso aos anciãos de Éfeso em At 20.31. A princípio aquilo de que essas pessoas precisam ser acusadas é expresso em uma frase fundamental, sumária.

Uma clara “sentença” sobre eles é certa: são ímpios. Quase todos os tradutores explicam o termo como “pessoa sem Deus”, mas isso é questionável. Afinal, de modo algum se trata de negadores de Deus. Estão no seio da congregação cristã e acreditam até mesmo que conduzirão o cristianismo ao auge. Aqui tampouco se trata predominantemente de teorias e ideias, mas de sua vida prática, de sua “devoção”.

A acusação contra sua forma de viver é: pervertem a graça de Deus em devassidão. Não são “sem Deus”, visto que confirmam a seu modo a mensagem da graça de Deus. Ocorreu, porém, da parte deles uma “perversão” dessa mensagem, algo a que ela, aliás, sempre está sujeita. Paulo formulou essa perversão e distorção interpretativa de forma áspera em Rm 6.1: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?

Também os apóstolos da liberdade em Corinto, com o lema “Todas as coisas me são lícitas” (1Co 6.12), consideravam que a realização plena da vida acontece “somente pela graça”, “somente pela fé”, sem “obras”, justamente no fato de que a vida corporal, em especial na esfera sexual, estava entregue ao inteiro dispor do ser humano. De que importava a sublimes pessoas espirituais o que fazia seu corpo transitório? 

Que satisfizesse sua pulsão! O mesmo acontece com a devassidão, que se remete à “graça de Deus”, pensando dessa forma dar especial destaque a essa “livre graça”.
Judas constata com flagrante dureza que todas essas ideias representam uma perigosa perversão da graça de nosso Deus. Certamente ele é “nosso Deus”, o Deus que se volta a nós com toda a sua maravilhosa graça. Mas trata-se do Deus real e vivo, do qual Hb 12.29 afirma expressamente que também “nosso Deus” é um fogo consumidor.

Não deixa de ser o Santo, que odeia o pecado, também em sua graça. É por isso que sua “graça” não propicia liberdade para o pecado, mas decididamente liberdade do pecado. Ela realiza isso ao se vincular a Jesus Cristo, que carregou e expiou nosso pecado, e ao nos remeter, assim, igualmente a ele como nosso “Senhor”.

A graça de nosso Deus não nos libera para uma liberdade em que não há um senhor e a consequente presunção autocrática, mas nos deixa “livres” pela entrega ao senhorio de Jesus Cristo. Por isso aqueles que pervertem a graça de Deus renegam simultaneamente ao único Soberano e nosso Senhor Jesus Cristo. Não constitui diferença significativa se vemos no “único Soberano” a Deus, o Pai, distinguindo-o de “nosso Senhor Jesus Cristo” ou se sintetizamos os dois títulos, designando a Jesus como “nosso único Soberano e Senhor”.

Em 2Pe 2.1 o termo despotes ( termo grego = mestre, senhor ) é inequivocamente relacionado a Jesus Cristo. É algo que também terá de ser ponderado aqui. A essência é se reconhecemos voluntariamente nossa subordinação a esse “Soberano” e “Senhor” com gratidão ou se a negamos e nos esquivamos dele. Novamente não está tanto em questão uma “negação” intelectual, dogmática, mas muito mais a “negação” do senhorio de Jesus na prática da vida vivenciada.

Judas, com essa frase, também aponta de maneira particular para o gnosticismo, ao definir Deus e Jesus Cristo enfaticamente como nosso “único” Soberano. O gnosticismo falava de “emanações” divinas, “eflúvios” ou também entes divinos intermediários entre Deus e o mundo. Isso convinha à religiosidade do mundo helenista, que apregoava, através de múltiplos cultos e santuários, muitos kyrioi, muitos “deuses” e “senhores”, deixando-os valer lado a lado.

Por isso é possível que também os grupos “modernos” nas igrejas se tenham voltado contra a “estreita e unilateral reivindicação de que Deus é absoluto” da proclamação apostólica, renegando assim o verdadeiro direito de senhorio de Jesus Cristo. Para os novos mestres Jesus Cristo não é realmente o “Senhor” que determina sua vivência, não configura nem preenche sua existência.

Neles, em sua palavra, obra e modo de agir não se consegue “ler exclusivamente Jesus e nada mais”. Como, porém, esses destruidores da igreja foram há tempo de antemão anotados para essa sentença? Vários comentaristas que defendem que 2Pe foi escrita antes da carta de Judas opinam que Judas esteja recorrendo a 2Pe 2.1 e considere cumprida agora a profecia ameaçadora dessa passagem. Outros pensam que ele se refere a exemplos típicos do pecado e de sua condenação na história da antiga aliança, como em seguida passará a citar nos v. 5-11.

Aqui há muito tempo teria sido anotada de antemão na Bíblia a sentença dos atuais falsos mestres. Em função disso seria chamada essa sentença. A rigor, porém, Judas não diz que sentença e juízo foram anotados para os hereges, mas, pelo contrário, que os próprios hereges há tempo já estariam “anotados” para a sentença. Tanto no AT como no NT a antevisão divina é ilustrada por meio das anotações em livro. Judas utiliza aqui essa metáfora familiar para fortalecer a igreja na luta contra os hereges. Não se contrapõe sozinha e abandonada a essas pessoas. Deus conhece esse pessoal e já os anotou há tempo em seu “livro”, precisamente para essa sentença.


Conclusão
Estejamos todos cientes que as verdades bíblicas são todas preciosas, entretanto neste estudo aprendemos que podemos priorizar algumas verdades, ou seja, quando a salvação do grupo está em risco por causa de heresias, não se cale, não engesse, busque persistentemente mostrar que a palavra não nos revela desta maneira. Ore por estes que pervertem a verdade, clame a Deus para que estes se arrependam e voltem-se ao soberano Senhor.

FONTE
Werner de Boor

Seu humilde teólogo
Leivison Barros S.
 

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