JUDAS
Comentário Expositivo
Tema: Judas – Uma vida de serviço
ativo e amor para com o próximo
Texto: “ Judas, servo de Jesus
Cristo e irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus Pai e guardados
em Jesus
Cristo: a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados -
Judas 1-2 ”
Introdução
Este é o primeiro estudo no livro
de São Judas, e veremos que esta pequena epístola é riquíssima em conhecimento.
Veremos nesta primeira seção, que não somos de nós mesmos, e que o amor a Deus,
deve ser partilhado entre os nossos irmãos.
A presente pequena carta
observa a forma epistolar antiga. Por isso cita-se primeiro o nome de quem nos
fala através da carta. É Judas, escravo de Jesus Cristo, porém irmão de Tiago.
Por Judas ser um nome muito frequente entre o povo judeu, o autor imediatamente
se apresenta de maneira mais específica. Faz isso de forma peculiar.
Inicialmente acrescenta uma “definição de cargo”, que obviamente soa
muito estranha para nós: Judas, escravo
de Jesus Cristo. Os leitores da carta percebiam essa expressão de forma
muito mais objetiva que nós. Havia escravos em grande número, e estavam também
entre os membros da igreja. Um “escravo”
é um ser humano cujo corpo e vida, com todas as forças e capacidades
produtivas, pertencem a outra pessoa, a seu Senhor.
Judas diz isso à igreja repleto de alegria,
assim como também Paulo se define como “escravo
de Jesus Cristo” (Fp 1.1 “ Paulo e
Timóteo servos de Jesus Cristo...” em Romanos 6 também vemos está linguagem
sendo aplicada aos santos) em sua carta mais cordial e alegre.
Judas pertence a ele, o “Senhor” que o “adquiriu”,
arrancando-o assim do “âmbito de poder
das trevas” (Cl 1.13), do “poder de
Satanás” (At 26.18), do “príncipe
deste mundo”, pagando por isso com seu sangue e sua vida. Judas pertence a
Jesus Cristo por gratidão e amor. Em consonância com passagens do AT, esse nome
era assumido por pessoas que de modo singular se encontram no “serviço” de seu Senhor, muito embora
todos que de fato seguiram ao chamado de Jesus não pertençam mais a si mesmos,
porém, comprados por alto preço, têm o privilégio de enaltecer a Deus com o
corpo e a vida (1Co 6.19 “ Ou não
sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? ”).
Judas não é um
“apóstolo”. Mas os leitores de sua epístola tampouco devem considerá-lo um
homem qualquer do cristianismo, que expressa sua opinião pessoal por meio desse
escrito. Ele escreve em supremo serviço e suprema incumbência. No entanto, visa
sublinhar ainda mais a relevância de sua palavra e tornar-se particularmente
conhecido dos destinatários de sua carta, de modo que acrescenta, com um
“porém” enfático: porém irmão de Tiago.
Esse nome possui
boa fama em todo o primeiro cristianismo, até mesmo nas igrejas de cunho
cristão gentio. No relato sobre o concílio dos apóstolos Paulo o cita em
primeiro lugar, antes de Pedro e João (Gl 2.9
“ E
conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça
que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé,
para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão; ”).
O nome também
ocorre em At 21.18 “ E no dia
seguinte, Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos vieram ali.”
Como personagem
decisiva: era irmão de sangue de Jesus, o qual depois da ressurreição lhe
concedeu um encontro pessoal, conduzindo assim à fé o homem que antes era
descrente. Quem escreve como irmão de Tiago pode estar seguro da atenção dos
leitores.
Tiago e Judas
são irmãos do próprio Jesus! Contudo ambos conscientemente evitam apontar para
esse fato em suas cartas. No passado realmente eram “irmãos” de sangue de Jesus, que não criam nele, mas o corrigiam de
forma mais ou menos “fraterna” (Jo
7.3-5
” Disseram-lhe, pois, seus irmãos:
Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as
obras que fazes.
Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.
Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto.”).
Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.
Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto.”).
Agora, porém, creem em Jesus, e precisamente
assim Jesus se torna para eles o kyrios
( palavra grega que significa Senhor, equivale
a Adonai = Hebraico para Senhor ), o Senhor diante do qual já não podem
aparecer como “irmãos”, mas
unicamente como “escravos”. Assim,
de sua parte, rejeitam qualquer ligação terrena e por parentesco, externada
pelo próprio Jesus com toda a aspereza (Jo 2.4; Mt 12.4650)
“ Disse-lhe Jesus: Mulher, que
tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. João 2:4 ”
“ E, falando ele ainda à multidão, eis que estavam
fora sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe.
E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te.
Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?
E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos;
Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe.
Mateus 12:46-50
E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te.
Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?
E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos;
Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe.
Mateus 12:46-50
”
Como todas as
demais pessoas, são “a partir de baixo”
e, consequentemente, totalmente separados daquele que é “a partir de cima”. Aqui cessa qualquer “parentesco”. À nomeação do remetente segue-se a indicação dos
destinatários da carta. Sem qualquer referência ao local de residência, são
descritos somente segundo sua natureza interior. Por essa razão não podemos
saber com certeza para onde Judas enviou a carta. Resulta do conteúdo apenas
que foi dirigida a uma igreja (ou igrejas), porque “ceias de amor” só acontecem em “igrejas”, por exemplo 1 Coríntios
11. Alguns teólogos acreditam que este
costume de confraternizar-se antes da ceia, começou logo depois que Jesus e
seus discípulos cearam no dia da páscoa. ( Marcos 12:14-26; Lucas 22:7-23; 1
Coríntios 11:23-29; Mateus 26:17-30 )
Independentemente
de onde essas igrejas se localizavam, devem ter sido igrejas nas quais o nome
Tiago tinha uma forte aceitação, ou seja, devem ter tido uma conexão especial
com a primeira igreja em Jerusalém.
É verdade que
também uma pessoa como Paulo conhecia e reconhecia a fama de Tiago, contudo é
difícil que Judas tenha se dirigido a uma igreja “paulina” destacando, ao
fazê-lo, seu relacionamento com Tiago.
Ao ler a carta de Judas devemos situar
os destinatários entre igrejas cristãs judeus do Oriente. No conteúdo, porém,
não é preciso dar um passo muito grande. Judas não considera uma “igreja de
Jesus” de forma diferente de Paulo. Sua caracterização é “teocêntrica”,
centralizada em Deus.
O que se destaca
na igreja não são suas qualidades ou realizações. Ela é o que é pelo agir de
Deus. É unicamente sobre isso que se fixa o olhar. Seus membros são chamados. Entraram na congregação
do Messias não por “obras” e “méritos”, mas pelo “chamado” de Deus, que
implicava, com certeza na mesma intensidade para Judas e para Paulo, a “eleição” e o “ordenamento” de Deus (Rm 8.30
“ E aos que
predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou;
e aos que justificou a estes também glorificou.”).
Da mesma forma
como Paulo escreve (1Ts 1.4 “ Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; ”)
Também para
Judas essa eleição e vocação divinas se originam do amor de Deus: esses
chamados são amados em Deus Pai. Também aqui o Espírito de Deus é eficaz até
nas formulações específicas. Os membros da igreja não são apenas amados “por”
Deus. Poderia haver a conotação, na conexão com sua realidade de chamados, de
que o amor de Deus somente existiria no começo da existência cristã. Não, são
constante e continuamente amados em Deus. Como isso é consolador para igrejas
que passam por grandes aflições e tribulações!
Ao mesmo tempo
podem ter a certeza de que em todas as dificuldades serão preservados para
Jesus Cristo. Quem de nós chegaria ao grande alvo se a fidelidade e paciência “preservadora” de Deus não segurasse
nossa vida com mão firme? Neste aspecto, porém, é importante captar
integralmente o teor da palavra.
Não se trata
somente da nossa preservação em si e de que “cheguemos ao alvo” pessoalmente. Somos preservados “para Jesus Cristo”! Portanto, também
nessa preservação consoladora e pessoal podemos nos esquecer de nós mesmos e
nos liberar de todo egoísmo devoto. Também nisso Jesus Cristo é o centro. Deus
nos preserva para que a reivindicação dele sobre nós atinja o objetivo e o
salário de seu árduo trabalho em nós não se perca.
É evidente que isso constitui simultaneamente
proveito para nós mesmos, porque nossa vida consiste em estar à disposição de
Jesus Cristo. Ao mesmo tempo a afirmação “preservados
para Jesus Cristo” tem foco “escatológico”.
No dia do retorno de Jesus deveremos estar preservados para ele. Assim, início
e fim da carta se sobrepõem. O v. 24 tornará a apontar expressamente de forma
escatológica para o “ser preservados de
qualquer tropeço” e, consequentemente, para o derradeiro grande alvo de
Deus.
Na sequência, segundo um belo costume da
época, o remetente se une aos destinatários da carta através do anúncio da
bênção: Misericórdia vos seja dada, e paz e amor em rica medida. Para um homem
como Judas isso era mais do que um “desejo
piedoso”. De acordo com a Bíblia, abençoar na realidade acontece na certeza
de que Deus concede aquilo que é prometido a pessoas que elevam os olhos para
ele em oração.
Aqui a dádiva da
bênção não é descrita mediante duas, mas três palavras, sendo que a
misericórdia consta enfaticamente no início. Ela é a dedicação fundamental de
Deus a nós, não apenas uma simpatia da parte dele mas intenção redentora de
Deus que se tornou ação, realmente histórica, na morte sacrificial de Jesus por
nós. A palavra paz recuperou para nós cristãos atuais algo de seu conteúdo
original e abrangente desde que recomeçamos a nos saudar com o termo hebraico
shalom como voto de bênção.
Experimentamos
assim que a rigor não é possível “traduzir” palavras. Para nós “paz”, devido a
uma longa história, é facilmente mera paz sentimental do coração. Shalom tem um
sentido muito mais palpável e real. Diante da menção do amor poderíamos indagar
se a intenção é destacar o amor de Deus por nós ou se a referência é a nosso
amor ao Senhor e entre nós. No modo de pensar do NT os dois estão estreitamente
ligados. Amor sempre é indivisível! Amor a Deus não é real sem amor ao irmão;
este, porém, nem mesmo é possível sem o amor a Deus.
1Jo 4.7-11
“ Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é
de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.
Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.
Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho
unigênito ao mundo, para que por ele vivamos.
Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos
amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.
Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros.
”
O voto de bênção em si já revela que não temos
os grandes bens, citados por ele, simplesmente como “propriedade”. Boa parte do cristianismo fenece porque ignora isso.
É verdade, tudo é nosso, nós somos pessoas ricas. Contudo somente somos ricos
enquanto isso nos for concedido renovadamente. O “ter” genuíno não nos permite
satisfazer-nos conosco mesmos, mas nos leva a um crescimento vivo, no qual
desejamos possuir, e também receber, em medida muito mais abundante, aquilo que
fundamentalmente já foi propiciado. De qualquer maneira, não há como duvidar da
disposição de Deus em nos presentear em rica medida. Em consonância, também
Paulo associou o alegre e grato reconhecimento daquilo que a igreja já possui
com a insistente solicitação de “se tornar ainda mais completo” (1Ts 4.10) e “sempre progredir” (1Co 14.12). Esses
são também os desejos de Judas para a igreja à qual escreve, e assim foi
previsto para ela pelo Senhor.
Conclusão
Viva para Deus,
declare Senhor, eu sou seu servo, não sou dono de mim mesmo, encha-me com a tua
inesgotável graça e misericórdia e ensina a amar o meu próximo com o amor que
sinto por ti, tu és o amor, oh meu Deus, e como eu lhe amarei sentido rancor,
raiva ou ódio do meu próximo, Senhor, torna-me sensível a tua voz e me ajuda a
ser um cristão melhor.
FONTE
Werner de Boor
Seu humilde teólogo
Leivison Barros S.
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